Estamos sendo governados por um psicopata. A conclusão parece inevitável à luz dos fatos das últimas semanas, especialmente pelo número de mortes por Covid-19 que o país deve atingir nos próximos dias: 300 mil mortos! Não obstante essa marca deplorável sob todos os aspectos, o presidente Jair Bolsonaro age com uma insensibilidade verdadeiramente chocante. Só para ilustrar, vamos citar os dois últimos atos cometidos pelo presidente, essa semana, relacionados ao tema:
1º - pressionado pelo Centrão para trocar o ministro da Saúde, Bolsonaro aceitou conversar com a médica Ludhmila Hajjar, indicada pelo grupo, a qual acabou não aceitando assumir o cargo, por absoluta incompatibilidade da sua agenda para enfrentamento da doença e a do presidente e pelo bombardeio que a médica sofreu, não apenas nas redes sociais, mas também pela tentativa de invasão do seu quarto de hotel, em Brasília, pela matilha bolsonarista.
Bolsonaro parece não ter se incomodado com o ocorrido. Ao contrário, pareceu aliviado, afinal teria de acatar os preceitos da ciência se nomeasse Ludhmila para o cargo. Por indicação, agora, do filho Flávio Bolsonaro, escolheu, então, para suceder Pazuello, o médico Marcelo Queiroga. No entanto, passados já 4 dias da escolha – o anúncio ocorreu no dia 15/03 -, o novo ministro ainda não foi empossado, fazendo com que tenhamos de conviver com dois ministros inoperantes, em meio ao mais grave momento da pandemia: Pazuello, o demissionário que não larga o osso e o novo ministro que, pelo fato de não estar empossado, sequer teve condições de montar sua equipe. Enquanto isso, as medidas urgentíssimas que o momento requer são postergadas para um depois que não temos, dado a lotação dos leitos de UTI país afora, a ausência de medidas coordenadas nacionalmente para contenção da doença e a iminente falta de medicamentos básicos para intubação dos pacientes graves.
2º - hoje, dia 18/03/2021, Bolsonaro ingressa no STF com ação questionando as medidas de isolamento decretadas pelos governadores do Distrito Federal, da Bahia e do Rio Grande do Sul para contenção da escalada de contaminação da Covid. Medidas estas extremas para os gestores locais fazerem frente ao colapso da saúde e ao ritmo lento da vacinação, por conta de vacinas insuficientes para todos dos grupos de risco. Insuficiência esta, diga-se de passagem, provocada pelo próprio governo federal quando deixou de comprar vacinas no tempo oportuno.
Os fatos acima, apenas nessa semana, num momento em que o país se aproxima do número assustador de 300 mil mortes provocadas pela pandemia, não deixam margem para dúvida de que somos governados por uma pessoa insensível à dor alheia e que só pensa em se manter no cargo, a qualquer custo. Em outras palavras, dois traços de personalidade – falta de empatia e egoísmo – característicos da personalidade psicopata.
É o que nos leva a concluir, também, o artigo do psiquiatra forense, Guido Palomba, publicado ontem, 17/03/2021, na Folha de São Paulo, ao escrutinar as características de personalidades anormais, com base no livro “Personalidades Psicopáticas”, do médico alemão Kurt Schneider.
Nesse artigo, Palomba elenca as características presentes na personalidade psicopata, entre as quais destaca: a ausência de sentimentos de piedade, compaixão e altruísmo, a incapacidade de se reconhecer culpado, vaidade exagerada, autoritarismo, agressividade, má educação, comportamento provocador, foco em si mesmo, “...tanto que se voltam atrás não é por reconhecer o erro, mas estratégia momentânea”, nas palavras do autor. “Nada os detém, salvo reprimenda enérgica, judicial e legal. Como chefes, são tiranos. Egoístas, colocam a própria vontade e a autoridade acima das leis e da Justiça.”
Afirma, ainda, o autor que psicopatia não tem cura, já que origem do mal é orgânica e irremovível, decorrente, não raro, de lesão cerebral na fase intrauterina ou em tenra idade. Não por acaso, o segundo nome de Bolsonaro, Messias, foi dado pela mãe, segundo ela, por conta de complicações na gravidez.
Nada contra a pessoa ser doente. Isso é algo que lhe foge ao controle, afinal. O preocupante é quando a pessoa nessas condições se torna presidente, responsável pela condução de um país, em meio a uma pandemia, cuja gravidade requer habilidades que nitidamente o presidente não tem. E não apenas não as tem. Sabota quem poderia suprir-lhe a falta, revelando, com isso, toda a perversidade de uma mente doentia. Situação em que a intervenção externa se torna imperiosa, pois a pessoa, nessas condições, não está pondo em risco somente a sua integridade física, mas de toda uma nação.
Não à toa, afinal, que chegamos a esse número escandaloso de mortes por uma doença que, sim, tem a sua gravidade – não é apenas uma “gripezinha” como afirmou o presidente na sua primeira intervenção sobre a Covid - mas que pode ser administrada, adotando-se medidas de contenção, que o presidente desde o começo negou-se a adotar, como o isolamento social, coordenado nacionalmente, o uso de máscaras, a adoção de uma ampla campanha publicitária para conscientizar a população da gravidade do momento, linhas efetivas de crédito para as empresas passarem por esse difícil momento e auxilio emergencial até a vacinação de toda população. O simples exemplo já teria sido positivo. Mas, de maneira deliberada, o presidente sempre adotou a postura negacionista, andando para cima e para baixo sem máscara, aglomerando e incentivando, inclusive, as pessoas a descumprirem as determinações dos prefeitos e governadores, o que acaba gerando desarticulação das ações desses gestores e contestações que, se tivessem o respaldo da autoridade do presidente, não haveria.
Em condições normais, essas características da personalidade de Bolsonaro poderiam até passar por excentricidades e esquisitices de uma personalidade peculiar – era o que se dizia na campanha, minimizando algo que a olhos vistos não era normal -, mas em situação de grave crise como a que ora estamos passando, tais características ganham relevo porque elas estão levando as pessoas à morte e o presidente não se convence da sua responsabilidade ao continuar insistindo em soluções que já se mostraram fracassadas: tratamento precoce com medicamentos comprovadamente ineficazes, negativa em se alinhar com as medidas a adotadas por governadores e prefeitos para conter a contaminação e falta de empenho para adquirir mais doses de vacinas para levar a cabo a vacinação em massa no mais breve período de tempo.
Em suma, o diagnóstico está dado. A questão agora é: até quando aceitaremos ser governados por um louco, em meio a mais grave crise sanitária dos últimos 100 anos?
Quantas mais mortes serão necessárias para convencer as autoridades – Congresso Nacional, Procuradoria-Geral da República, Supremo Tribunal Federal e Forças Armadas – que alguma coisa precisa ser feita para deter esse genocídio?
CPI? Interdição? Impeachment?
O fato é que como está não dá! O presidente já se revelou incapaz de conduzir o país em meio a essa grave crise, por conta da personalidade doentia da qual parece não se convencer que é portador. De forma que a intervenção terá de vir de fora, de uma autoridade moral ou legal externa à personalidade do presidente, pois ele não possui aquele juiz interno, chamado consciência, que as pessoas normais têm, para julgar suas ações, apontar seus erros e fazer uma correção da rota que está perseguindo. A psicopatia do presidente o impede de alcançar essa compreensão.
Resta saber quem cumprirá esse papel, já que as manifestações de rua estão limitadas a esporádicas carreatas contra e a favor, por conta da pandemia, enviando sinais trocados a uma mente de ordinário já perturbada e que, na sua megalomania, não precisa muito para acreditar que ainda está agradando.
Situação que nos leva a uma outra e derradeira questão: qual o grau de cumplicidade das pessoas que ainda o apoiam e que, impregnadas pelo discurso de radicalização ideológica do presidente, fecham os olhos para as milhares de mortes que esse discurso e essa radicalização estão provocando em nosso país? E das instituições que, diante desse discurso, dessa radicalização e dessas mortes, se omitem?
De qualquer sorte, esperamos não precisar, mais uma vez, ter de contar com apenas o julgamento da história para fazer justiça àqueles que hoje sofrem as agruras dessa doença e do caos da economia que Bolsonaro provoca, por conta, agora, do atraso na vacinação. Afinal, para quem está num leito de UTI, que já partiu ou que tem um ente querido nessas condições esse é um julgamento que normalmente chega tarde demais.
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