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A MARCHA DO GOLPE.

Primeiro levaram os negros/Mas não me importei com isso/Eu não era negro Em seguida levaram alguns operários/Mas não me importei com isso/Eu também não era operário Depois prenderam os miseráveis/Mas não me importei com isso/Porque eu não sou miserável Depois agarraram uns desempregados/Mas como tenho meu emprego/Também não me importei Agora estão me levando/Mas já é tarde./Como eu não me importei com ninguém/Ninguém se importa comigo.

Poema Intertexto, de Bertold Brecht


Primeiro se tira do Poder, sem causa jurídica relevante, uma Presidente legitimamente eleita pelo voto popular.

Depois se impede reiteradamente a investigação de um Presidente notoriamente corrupto mediante a compra de parlamentares, aumentando entre a população o sentimento da impunidade.

Insufla-se o ódio mediante os ataques aos direitos sociais.

Subtrai-se paulatinamente a autoridade moral e a independência da Justiça com a tolerância de subterfúgios que extrapolam o teto remuneratório constitucional, tais como auxílio-moradia e outros, chamados eufemisticamente, penduricalhos.

Permite-se que a Lava-Jato destrua a indústria nacional e seja usada ideologicamente para perseguir o maior líder popular desde Getúlio Vargas. De um lado, para se entregar as riquezas nacionais aos estrangeiros, mediante propina depositada em contas no exterior, mais difíceis de rastrear; e, de outro, para se impedir a candidatura deste líder popular às eleições de 2018.

Permite-se o sucateamento de um dos Estados mais importantes da Nação, com a degradação dos serviços públicos, em especial da segurança, para se decretar intervenção federal, mediante o emprego das Forças Armadas, como um deus ex machina capaz de salvar a população da barbárie e do caos, quando é sabido que a verdadeira causa da violência nas comunidades pobres do Rio de Janeiro é ausência do Estado. Ausência esta ocupada pelas milícias e o tráfico de drogas.

Tolera-se, por fim, que o assassinato da Vereadora Marielle Franco, do RJ, seja narrado como mais um episódio da violência indiscriminada e não como um ato de execução, promovido provavelmente por forças policiais do próprio Estado, contra as quais ela vinha denunciando a violência e o abuso cometido contra as comunidades pobres.

É a lógica do golpe levada até as suas últimas consequências representada pela morte desta ativista social.

Quanto tempo demorará para que esta lógica chegue até nós, cidadãos comuns?

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