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O homem de gesso

julioperezcesar

O homem de gesso

anda pelas ruas.

Mal consegue ver o que

se passa a sua volta

pois mal consegue olhar

para sua esquerda e a sua direita

com o gesso

que lhe puseram no pescoço

sobre os ombros

em seus braços

no seu torso.

Suas pernas se arrastam

e seus braços parecem pêndulos de ferro

ao longo do seu corpo

engessado.

Todo ele é um molde de gesso

onde

o que há de pior na cidade

vem se depositar.

Camadas e camadas

de perda de autenticidade.

Camadas e camadas

de um arrancar-se de si.

O homem de gesso

caminha na cidade

através dos seus corredores de concreto e

túneis de aço

à procura de qualquer coisa

como um martelo

que o estilhace de dentro

dessa prisão.


Uma mão pousou em seu rosto.

Um estremecimento percorreu seu corpo.

O gesso rachou

um raio de luz entrou.

O ar tornou-se menos denso.


Há alguma esperança

para o homem de gesso na cidade?

A mão que o afagou

só ela


pode dizer.

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