O homem de gesso
anda pelas ruas.
Mal consegue ver o que
se passa a sua volta
pois mal consegue olhar
para sua esquerda e a sua direita
com o gesso
que lhe puseram no pescoço
sobre os ombros
em seus braços
no seu torso.
Suas pernas se arrastam
e seus braços parecem pêndulos de ferro
ao longo do seu corpo
engessado.
Todo ele é um molde de gesso
onde
o que há de pior na cidade
vem se depositar.
Camadas e camadas
de perda de autenticidade.
Camadas e camadas
de um arrancar-se de si.
O homem de gesso
caminha na cidade
através dos seus corredores de concreto e
túneis de aço
à procura de qualquer coisa
como um martelo
que o estilhace de dentro
dessa prisão.
Uma mão pousou em seu rosto.
Um estremecimento percorreu seu corpo.
O gesso rachou
um raio de luz entrou.
O ar tornou-se menos denso.
Há alguma esperança
para o homem de gesso na cidade?
A mão que o afagou
só ela
pode dizer.
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