Com uma caixa amarrada às costas
o entregador cruza por mim
uma
duas
três
quatro vezes
numa única hora
em que me detive
para beber
uma cerveja.
Tive um dia cheio
mas cumpri minha tarefa.
O entregador parece que ainda não.
Com a cara amarrada
amarrado à caixa
- gigante –
que lhe vai às costas
cruza por mim
sem se deter.
A pé!
Não de moto
nem de bicicleta
como costumamos ver.
Última instância do ser
faz do andar
sua derradeira forma
de sobreviver.
O entregador não pode parar.
Tem de entregar
por preço tão vil
o que os outros vão comer.
Suspeita que ao final
não lhe restará
nem tempo
nem dinheiro
nem disposição
para uma cerveja sequer
nesse triste entardecer
de Porto Alegre.
e.
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