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A VIOLÊNCIA DA COMUNICAÇÃO!

julioperezcesar

Três acontecimentos entre os dias 11 e 15/02 marcarão profundamente a história, seja ela mundial, seja das pessoas envolvidas. Refiro-me, primeiramente, ao desfile da Escola de Samba Paraíso do Tuiuti, no dia 11/02, pelo grupo especial das escolas do Rio de Janeiro, a qual apresentou um samba enredo e uma temática profundamente crítica à sociedade e ao momento atual do Brasil, ao trazer para a avenida o tema da escravidão. Escravidão que, de acordo com o sociólogo Jesse Souza, em seu recente livro A Elite do Atraso é a nossa verdadeira matriz para entender o Brasil, diferentemente de outras categoria criadas por sociólogos de antanho que influenciaram profundamente o pensamento sobre o país, quais sejam, Sérgio Buarque de Holanda e Raimundo Faoro, ao criarem as categorias do patrimonialismo e da corrupção só do Estado, deixando na zona de sombra, ou como diria Heidegger, velado, a verdadeira matriz da corrupção do mercado.

O desfile fez um resgate histórico da escravidão desde os tempos antigos até o Brasil de hoje, quando vemos o atual Governo perpetrar uma série de ataques contra os direitos dos trabalhadores, com a reforma trabalhista e a praticamente sepultada reforma da previdência. Para ilustrar a escravidão do presente, o carro alegórico de fechamento da Escola foi antecedido pela Ala dos Manifestoches: manifestantes vestidos da camiseta da Seleção Brasileira, dentro de patos alegóricos, com panelas nas mãos, conduzidos por fios presos a uma mão gigante manipuladora sobre suas cabeças. Logo atrás o carro alegórico, encimado pelo vampiro-presidente, com a faixa presidencial e tudo e um peruca à la Luís XV, com detalhes que lembram os chifres do coisa ruim.

O simbolismo foi avassalador e deixou calado os comentaristas da perversa emissora, justamente a mestre das mestres na arte da mistificação, a famigerada rede que mantém a todos enredados em seu globo, apontada, aliás, por Jessé, no capítulo derradeiro do seu livro como responsável pelo usurpação do espaço público – a ágora virtual dos tempos modernos – e que deveria ser ocupada por uma emissora pública que oportunizasse ao cidadão ter uma alternativa de informação e um parâmetro para se prevenir justamente dessa mistificação.

Não obstante o mutismo dos comentaristas e a omissão da Globo da parte principal dessa manifestação crítica da Paraíso do Tuiuti – cuja sigla PT desgraçadamente para os coxinhas lembra outra agremiação igualmente odiada – a Escola sagrou-se vice-campeã do Carnaval do Rio, ficando atrás da Beija-Flor, apenas por um décimo e cujo desfile também foi crítico.

O segundo acontecimento foi o atropelamento do médico e ciclista, em Passo Fundo, Jonatas Conterno, 36 anos, na ERS 153, próximo ao Santuário Nossa Senhora Aparecida. O motorista estava embriagado e matou um pai de família, na flor da idade. Em seguida, fugiu, sem prestar socorro, mas foi localizado pela polícia, após colidir contra o muro de uma casa.

O terceiro acontecimento, foi o mais recente assassinato em série de um aluno desequilibrado no EUA, o qual, matou 17 colegas, após invadir uma escola na Flórida portando um rifle AR-15, comprado legalmente, nesse país que podemos considerar doente, porque, ao mesmo tempo que divide as pessoas entre winner x looser, autoriza a venda sem restrição de armas de todos os calibres. O resultado é previsível e continuará sendo enquanto a indústria armamentista no Estados Unidos permanecerem mantendo lobbies poderosos junto aos Congressistas e, agora, com um simpatizante, visivelmente desiquilibrado, no mais alto posto da nação, qual seja, Donald Trump.

O que há em comum entre estes três acontecimentos? A violência!

A violência social, explicitada pelo racimos e pela exclusão. A violência no trânsito proporcionada por leis que por mais duras que sejam, se não contarem com fiscalização intensiva e efetiva punição (estranho que o crime cometido por um motorista embriagado tenha sido enquadrado como homicídio culposo. A meu ver, no mínimo o dolo eventual está ai perfeitamente caracterizado, na medida em que um motorista embriagado e que dirige em alta velocidade assume o risco de matar). E a violência simbólica do bullyng, de uma sociedade altamente competitiva que valoriza apenas aqueles que vencem segundo seus critérios, quando a diversidade humana é infinita e as formas de realização igualmente.

Violência que, a meu ver, devemos considerar uma forma de comunicação. Comunicação de uma sociedade que está doente e que precisa fazer uma reflexão sobre o rumo que está tomando.

Depois que as utopias ruíram junto com o Muro de Berlin, o discurso único do capitalismo, da concentração de renda e sociedade da ostentação parece não está dando as respostas que a comunidade humana precisa.

Não está na hora de revermos esses valores?

Nesse sentido, o Papa Francisco é uma voz a ser ouvida, assim como Pepe Mujica, Olívio Dutra e outros exemplos de austeridade e desapego. Como bem disse o Papa em um dos seus discursos: “o melhor antídoto contra a corrupção é a austeridade”. Virtude essa tão démodé, mas que teremos de resgatar para que a sua presença em nossas vidas abra espaços para outros valores, como a paz, o amor e a solidariedade entre os homens.

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